sábado, 17 de julho de 2010

Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis. Remexo o cérebro e elas vêm, não raras, mas toneladas. Deixam sempre um gosto de poeira na boca - a poeira do que se tentava expressar, e elas dissolveram. Quanto mais palavras ocorrem para vestir uma idéia, mais essa idéia resiste a ser identificada. As sucessivas roupas sufocam a sua nudez. E todas as palavras são uma grande bolha de sabão, às vezes brilhante, mas circundando o vazio. Ah, se eu pudesse escrever com os olhos, com as mãos, com os cabelos - com todos esses arrepios estranhos que um entardecer de outono, como o de hoje, provoca na gente.

Caio Fernando Abreu

Um comentário:

Unknown disse...

As vezes me sinto assim, me identifico com esse trecho;
"todas as palavras são uma grande bolha de sabão, às vezes brilhante, mas circundando o vazio"

beijo meu amigo Rodolpho!

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Você, de repente, não estranha de ser você?